quinta-feira, janeiro 26, 2006

Apontamentos

«Uma rapariga começa a ter uma vida difícil muito cedo. Sobretudo quando tudo dura pouco tempo. Sem a invisível protecção do pai, dos anjos ou de deus ninguém sabe o que se pode, não se pode nada. Por isso, com a alma aflita, uma rapariga procura sentimentos recíprocos. Em muitos sítios onde não devia, em que já sabe que não vai encontrar nada de jeito, porque os vícios colam-se às pessoas, quaisquer que elas sejam, boas ou más. E depois é tarde e uma rapariga é um ser volátil que se queima (...).»


«Acordar de noite. Não sentia a dor. Ficar quieto. À espera da dor. Respirar devagar. Abrir os olhos. Primeiro um, depois o outro. Fechar os olhos devagar. À espera da dor. Tu a chegares e depois a partires. A ires e a vires, a nunca ficares. Acordar de noite. A meio da noite. Ninguém a teu lado. Um braço, uma cabeça, um colo. Sem te mexeres. Não vale a pena. Ninguém a teu lado(...).»


«Entre um homem e uma mulher poucos são os sentimentos recíprocos. O sexo é um antídoto para esquecer isso, que às vezes resulta. Eu digo-lhe com o mar mais sensato que tenho: "A vida são muitas coisas. O amor é só uma entre muitas." E ela responde de seguida: "A vida pode mudar muito mais do que se espera, o amor é o que está acima de tudo, tudo altera. Nos teus braços morreria" (...).»

Pedro Paixão, claro.

domingo, janeiro 22, 2006

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Quinta, Sexta, 13...

Podia tê-lo dito de uma maneira suave, podia ter sido gentil, podiamos ter achado que se sentia triste também. Mas não, disse-o com a certeza absoluta de quem manda num lugar, ou com o isolamento amargo de quem já viu morrer debaixo da alvura do tecido de algodão da bata. Sem mais explicações precisas, disse-o enquanto olhava chapas pretas e brancas e via ossos onde eu vejo polaroids a preto e branco de céu com nuvens.
«É muito grave» - disse, e como aqui toda a gente lhe obedece, determinou-me uma estranha sentença.
Tenho frio, estou cansada, estou suja, tenho terra nos braços, nas pernas, tenho vidrinhos pequenos cravados nas costas, dói-me. Não consigo perceber porque é que me deixaram sozinha aqui e, por muito que pense em tudo o que me faz feliz, construa narrativas simpáticas acerca da situação e me lembre constantemente que o tempo passa e isto também vai passar, tenho medo.
Posso morrer esta noite e não preparei ninguém para isto, ninguém esperava, nem eu. Logo agora, que me esqueci de dizer tantas coisas importantes a tantas pessoas de quem gosto. Que não lhe disse antes de saírem que não tenho medo de morrer (quando talvez tenha...), que vou ficar bem de qualquer modo. Que não as lembrei de gostarem sempre primeiro delas e de se respeitarem acima de tudo, respeitando depois os outros, que não lhes garanti que morrendo ficava a olhar para elas das nuvens... Que não disse às pessoas de quem gosto o tanto-quanto gosto delas, mesmo; que não pude perdoar às vezes, que outras não pude pedir desculpa. Agora, com a vida toda para resolver...

«Então, não consegues dormir?»
«Não.»
«Eu também nunca consigo dormir aqui e olha que já cá trabalho há 5 anos.»
«Sou muito nova para morrer, sabe?»
«Sei filha, mas aqui vemos coisas tão injustas.»

Faz hoje à noite 3 meses.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

terça-feira, janeiro 03, 2006

Da nova série «Ter um Colar Cervical aproxima-nos da 3ª idade»

«Vai devagar, vai mais devagar, vais a uma velocidade louca!»
(Pode ser repetido compulsivamente de Lisboa ao Algarve e ocorre sempre que a velocidade atinge a barreira dos 60 km hora.)