quarta-feira, setembro 28, 2005

Vasco

Ando há muito tempo a tentar dizer-to e a procurar maneiras bonitas, suaves, doces e simples. Ando à procura delas mas faltam-me as palavras, encontro-as e acho-as imperfeitas, passo-lhes o pano e não reluzem, sempre opacas pelo pó.
Tento dizer-to todos os dias, filho, todos os dias em que te vejo chegar da escola com a altura pequena mas promissora dos teus dez anos (estás quase da minha altura, também não sou muito grande), a mochila às costas e o bolso cheio de cartas, quando depois da escancarada porta te atiras nos meus braços berrando que hoje marcaste três (três!) ao frango do Ricardo, não defende nada, também!
Ando a tentar dizer-to quando à noite te deitas na tua cama de criança, o edredão dos barcos, os automóveis de brincar em corridas imóveis pelo chão do quarto, estendes os braços e me dás o beijo do antes de dormir, adormeces do mundo dos grandes e entras no sonho do mundo dos pequenos.
E era sobre isso mesmo, filho, que te queria falar. Gosto de ti e tenho medo. Medo que cresças e medo que fiques sempre pequeno, medo que engulas o mundo ou que sejas engolido por ele, e tem-me atormentado a ideia de te achar a mochila demasiado larga ou pesada, filho, para o tamanho das tuas costas.


Banda Sonora: Angel Standing By, Jewel
Acrescento(s): A propósito do meu irmão mais novo, que agora carrega uma média de cinco livros por dia na mochila nova. Ai, galinha! :)

1 comentário:

Lino Gomes disse...

Não só me espanta o espírito faterno do post como a pincelada pelo humor futebolistico, sempre à frente, muito...