quinta-feira, março 09, 2006

Alfarrabista

Ia à procura de uma edição antiga, original, de um livro especialmente ligado a momentos afectivos. A loja é deles, dos livros, mas pareceu-me o homem por trás do balcão particularmente curioso e desperto, atento. Conversámos.

« -Bom, passo então na 2ª, de qualquer forma venho cá todos os dias à fisioterapia.»
« -Fisioterapia, tão nova?»
« -Sim, tive um acidente, parti o pescoço... Por isso é que tenho estas borbulhinhas...»
« -Ah, não fica feia e tem uma camisola bonita e um cachecol cor-de-rosa com que está sempre a brincar. E não leve a mal dizer-lhe isto, tenho idade para ser seu avô, até tenho uma neta de 27 anos.»
« -Por acaso lembra-me o meu avô... Morreu em Março.»
« -É a lei das coisas, os avós morrerem primeiro que os netos. Sabe, há algum tempo uma amiga confidenciou-me que o meu filho lhe disse "Não estou preparado para ver o meu pai morrer". Há lá forma de amor mais linda que não estar preparado para ver alguém morrer?»

Saí a chorar, claro. Sabes avô, às vezes (tantas) tenho saudades tuas...

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