Andar. Eventualmente, correr. Ou chegar atrasado, ou ver a vida passar.Sentar com cuidado, fechar os braços sobre o colo, fechar também o rosto e nunca sorrir.
O Metro, avô. O Metro. Como se ainda te pudesse ver, ou me pudesse ver correndo a escadaria cinzenta atrás da linha azul, no vértice de intersecção da minha mão pequena e da tua mão, nessa altura de quase-velho(s).
Lisboa está cinzenta, o metro já não leva às laranjeiras do Zoo e agora até rebentam lá dentro pessoas em nome de Deus, num funcionamento estranho a que chamam atentado.
As pessoas estão cinzentas, tão cinzentas que nem os artistas de metro lhes dão música à tristeza, que não conseguem ler nos anúncios «não corte no mais importante» nada de fundamental. Que uma miúda, apenas, sorri, na graça do cabelo de caracóis, e extraordinariamente ou não - aliás, nada extraordinariamente- tem impresso «chica guapa» na manga infantil rosa choque da camisola. Os pais olham um para o outro nos olhos, cheira-me a amor.
Devo ter aprendido a contar nas linhas do metro, avô. Altos dos Moinhos, oito. Saímos na nove. Chiadeira, velocidade, túnel cinzento de fumo. Nove. Saio aqui. Colégio Militar, Luz. Luz!? Que luz?
Tenho saudades tuas, mas isso agora entre nós não é mais que um selo perpétuo, que uma rotina de fim de carta, porque tu não voltas e eu vou ter sempre saudades.
Inês
sábado, março 25, 2006
Cartas a um avô em cinzas acerca de uma Lisboa cinzenta
Publicada por Luz à(s) 9:40 da tarde
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Olá Madrinha!
Foi a 3ª vez que vim ao teu blog e continuarei a vir. Escreves muito bem e fazes com que me identifique com certas coisas. Como com a Saudade do Avô, por exemplo...
Beijinhos
Olá, Margarida! Que saudades tuas! É o ritmo da vida, suponho... Ainda assim, tem qualquer coisa de bonito ter saudades - não se tem saudades de nada de que não tenhamos gostado!
Ainda bem que cá vens, melhor ainda deixares um comentário de vez em quando (lol) e, quanto às saudades do avô, retomamos o parágrafo anterior... por um lado, ainda bem que as sentimos!
Um grande beijinho para ti também...
(PS. «Oh madrinhas, eu não quero levar cornos!!» - desculpa, não resisti, lol!)
Enviar um comentário