segunda-feira, maio 16, 2005

«Quem tem um amor tão grande/ Só teme ter de partir...»

Amaste-a desde o primeiro momento. Serena, altiva, inabalável e tão simultaneamente protectora no seu ar grave, tão acolhedora para além do seu coração de pedra.
Hoje, enquanto te preparas, porventura mais o espírito que o corpo, vais repetindo a ti próprio que podes sempre voltar, que vai estar sempre à tua espera, que há qualquer coisa nela que nunca te vai deixar.
E, enquanto apertas o nó da gravata que já usaste tantas vezes, parece-te particularmente escura, mas compões o casaco e olhas-te ao espelho, a navegar em angústias pelo rio de ti mesmo.
Sobes a rua, a mesma rua de sempre, sentas-te e esperas, à espera dela, à espera de música, à espera de encontrar qualquer coisa em ti que lave e sare a dor de partir...
Bate o relógio, a música começa, recordas tudo. As latas nos pés, a água do rio, já tu baptizando, amores em chamas e ruas em fitas, cartolas e fados, Coimbra, cidade. Devagar, choras e queimas, sabendo já como é o que nunca mais será. E ardes ainda mais as fitas que tens em ti, sabendo que, quando a música acabar, quando a última guitarra cessar de ranger, quando por fim as vozes calarem o fado, quando esta queima arder, o que restará de Coimbra em ti serão cinzas, ou nada mais que saudade.


Banda Sonora: Coimbra, por Carlos Paredes

2 comentários:

Lino Gomes disse...

Tudo tem o seu tempo ... e nada apagará esse tempo que descreves, nessa ou noutra urbe. Nota 10 para a banda sonora!

Anónimo disse...

Eu temi... e parti. Mas espero voltar em breve, as saudades apertam meu amor *****