quarta-feira, fevereiro 23, 2005

O meu planeta és tu...

Esta tarde, ele veio. Apareceu a correr, trazendo o frio da rua no casaco de chuva.
Esta tarde, veio, e tudo se passou como sempre se passa. Um beijo no hall de entrada, rápido, apressado, chuvoso ainda. O mesmo caminho rápido até ao quarto, a mesma urgência. A mesma cama pequenina e estreita, o mesmo edredão de ovelhinhas suaves sobre um fundo azul, o colchão já mole, o mesmo porquinho de peluche cor-de-rosa. Os mesmos beijos náufragos urgentes, o mesmo cair da roupa sobre o chão, depressa, o mesmo cair dos corpos sobre a cama.
Esta tarde, depois de lhe teres pedido muito, muito, ele veio, veio e deitou-se a teu lado, já despido, já tu despida, na cama do edredão azul de ovelhas estampadas e dançaram os dois ao som da mesma música de sempre, que é afinal a vossa.
Esta tarde veio, e ainda agora, que já foi, não consegues dizer se esteve contigo, em ti, por ti ou através de ti.
Esta tarde choraste, depois de ele partir, zangado não sabes bem porquê. Choraste, porque querias não talvez mais, mas diferente, choraste a alma aos bocadinhos sobre o mesmo edredão azul, choraste a vida que vão levando, choraste-o a ele e, mais ainda, choraste-te a ti.

Esta noite saíste, a mesma raiva em pontadas debaixo do peito, debaixo do top preto, debaixo do coração, a cabeça nele e o corpo dançando e a boca bebendo.
Esta noite saíste, e se te tocaram ou se te beijaram não sabes dizer, mas desta vez garantes que passaram por ti, através de ti, que contigo só ele está.

E no fim da noite, voltaste a chorar.
Sabes que amanhã lhe telefonas, que ele te atende, que falam os dois, que depois de pedir, ele volta à tarde, o mesmo casaco de chuva frio.
Sabes, mas o que querias saber é que raio de dor é o amor.

Banda sonora: Fuck it, Eamon

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