domingo, setembro 30, 2007

Quer ser velha, feia, ou pobre?

Age Delay Chanel: perfeito para a prevenção das primeiras rugas (sim, essas que começam a aparecer na testa, subitamente, aos 24). 60 Euros, de utilização diária, de manhã e à noite.
Nutricaps: Cápsulas de nutrição para cabelos e unhas, que previnem as quedas sasonais e nos tornarão encarnações femininas de Sansão, com o up-grade das potentes garras. 40 Euros a caixa, a repetir duas vezes por ano.

Isto, claro, para não falar de necessidades ligeiramente menos imperiosas e imprescindíveis, como um exfoliantezinho simpático, desmaquilhante, leite de limpeza, essas coisinhas.

As Nutricaps, tomo religiosamente. O Age Delay, pas encore. Mas pergunto-me, pergunto-me, se prefiro ser velha, feia, enrugada ou pobre.

domingo, setembro 23, 2007

A Carla (II)

Fez-me escrever como nunca. Alguém reparou que tenho postado eminente sabedoria, mais que nunca? ;)

quinta-feira, setembro 20, 2007

Qualidade

A Marisa é uma menina pequenina, muito pequenina. Morena, com uns óculos pequeninos e uns olhos grandes. É o tipo de menina que reconheceríamos mesmo antes de sabermos quem é, depois do Inês, queria que visse uma menina da minha sala. Porque a prática conta e porque, ninguém mo tira da cabeça, há qualquer coisa da tristeza que contamina também o aspecto físico dos meninos tristes e que os torna também tristes a olho nú.
Tem um discurso desorganizado, saltitante, sem estruturas gerais ou grandes fios condutores. Ainda assim, parece evitar cuidadosamente assuntos ansiógenos, e procura defender a sua estrutura familiar actual.
Da história de desenvolvimento, destaca-se uma ausência quase sistemática de padrões vinculativos organizados: foi retirada a uma mãe abandónica para ver a sua guarda partilhada por avós que sempre consideraram que deviam ser os pais a cuidar dela, independentemente da qualidade de prestação de cuidados. Voltou à mãe, voltou aos avós em estado de sub-nutrição. A mãe morreu. Uma das avós mudou-se para a província. Agora, cuida da Marisa, em conjunto com uma tia. Esta avó cuida da Marisa, porque «era uma vergonha ela ir para um lar», mas continua a achar que o pai devia assumir as «suas responsabilidades».

Um estudo (ou vários), cujos nomes e autores não posso citar de cor, mas garanto que existe, procurou perceber que factores predisponentes de psicopatologia na primeira infância saturavam de tal forma uma personalidade que tornavam a resiliência impossível. De todos os factores analisados, o único factor que se revelou irreversível foi a percepção das mães de que os bebés-filhos choravam para as agredir. Os cognitivo-comportamentais também salientam a «insularidade materna» (mãe-ilha)como um factor predisponente de psicopatologia.

Ontem, estive numa formação de «Qualidade nas Respostas Sociais». HACCP, normas, afins. A formadora tinha uma mala Burberrys impecável e um relógiozinho Emporio Armani muito, muito giro. Estava grávida. Reparei que nunca, nunca, passava a mão pelo meio da barriga, por baixo da barriga, por qualquer lado da barriga, que, aliás, lhe servia de apoio para os cotovelos. No intervalo, estava a fumar.

Acho que também as mães ou quem as substitui deviam ser sujeitas a normas de qualidade. E é triste, triste, que isto não seja brincadeira.

Eu nem sequer sou fundamentalista: mas que ASAE regulamenta a qualidade das mães e seus substitutos?

quarta-feira, setembro 19, 2007

Da já menos nova série «Isto não especifica o DSM»

Acho, convictamente, que as moderninhas fora do Birro Alto não me curtem ao primeiro impacto. Genericamente, porque tenho o cabelo com madeixas, não uso sapatos que parecem feitos de loiça, nem tão pouco sapatos diferentes de pé para pé. Nem brincos, cabelo ou roupa muito às cores. Terei um padrão de personalidade paranóide?

Esclareça-se: ao fim de, no máximo, 20 minutos, as moderninnhas já não resistem ao meu charme (sou psicóloga e tenho uma tatuagem, o que faz de mim übber cool).

segunda-feira, setembro 17, 2007

Quase, quase me faziam comer melancia

Mas todos sabemos, mesmo quem, como eu, detesta até o cheiro da melancia, que a melancia é indigesta. Tão indigesta como o fim do filme, que, ao invés de situar a azia no estômago, como a melancia, nos deixa com um amargo de boca.
- Susana... Achas que podes amar uma pessoa e ir para a cama com outra?
- Não sei, acho que não. E tu, o que é que achas?
- Já não sei nada. Quero comer donuts.
- A questão é que, se gostas mesmo de uma pessoa, não queres que ela sofra e, sobretudo, não queres ser tu responsável pelo sofrimento dela.

Fiz depois a viagem de Lisboa para casa a pensar nisso. Então, ele devia ser proibído de dançar por cima de uma ponte com ela sobre os pés dele. Que é como quem diz nem sei bem o quê, ou como quem acha que algumas coisas são dolorosas demais para as pessoas serem assim levianas.

sexta-feira, setembro 14, 2007

E agora, perguntam vocês, porque é que continuas a ler esse cretino

A Luz explica: ele tem assim, às vezes, umas ideiazinhas brilhantes.
(E não fofos, não, não tenho uns traços de personalidade masoquista.)

«A criança agressiva encontra-se normalmente dividida entre duas tendências contraditórias. Temendo o abandono, porque geralmente o sofreu, manifesta uma necessidade despótica e desproporcional de provas de amor, mas, a partir do momento que começa a obter respostas activas a essa necessidade, defende-se delas, receando um sofrimento afectivo ulterior mais forte do que o que está a experimentar: a rejeição. Na verdade, tudo se passa como se ela estivesse a antecipar essa rejeição. (...) A criança oscila, pois, permanentemente entre uma angústia presente e real e uma angústia futura e fantasmática o que a leva a defender-se não só do afecto que lhe dão, mas também do que sente.» (p.60)

Eu acho isto absolutamente certo.

Da série, já menos nova, «Deitem-me no Divã Dinâmico e Analisem-me até aos Ossos»

A propósito da encoprese, ou do cocó nas cuecas até muito tarde, o nosso infra citado e brilhante pedopsiquiatra afirma que, quando ainda não faz-cocó-no-bacio, a criança:
«(...) ainda não atingiu o estádio de maturidade que lhe permita estabelecer uma distinção entre as dejecções e o próprio corpo. (...) a expulsão equivale a um verdadeiro atentado à integridade física, a uma perda de substância, quase uma amputação. Portanto, fazer as necessidades nas fraldas permite-lhe, por um lado, "ignorar" a perda de substância e, por outro, conservar-se intacta.»

E se a mãe insistir com a criança ainda-não-preparada para que passe a usar o bacio:
«(...) acaba por ser sentida como perigosa, pois é ela quem quer impor o que a criança sente como uma mutilação. Perigosa, logo não afectuosa.»

Por fim, outro erro craso da mãe:
«A aquisição do asseio poderá também ser parasitada pela noção de "prenda" que a mãe introduz na relação: fazer cocó no bacio é, de certa maneira, dar à mãe o prazer que ela lhe proporciona ao alimentá-la» (à criança)

Mesma referência bibliográfica, p.70
Nem um único comentário: me quedo muda.

terça-feira, setembro 11, 2007

Nem de propósito

O João, que hoje veio «à minha sala», apertava insistentemente a berguilha das calças.
Perguntei-lhe:
- Queres fazer chichi?
Respodeu-me:
- Não.
E eu, cabra-repressora-das-criancinhas-e-causadora-de-traumas-para-a-vida:
- Então, tira a mão da pilinha.
- Não posso. Tenho comichão nela.

Nota: Nela? Quem é ela? Aos 5 anos já-estás-nisso?

Da nova série, que se inaugura, «Deitem-me no Divã Dinâmico e Analisem-me até aos Ossos»

Acerca do onanismo infantil: «(...) a masturbação é mais frequente nas raparigas que nos rapazes. Quando este toca o sexo com frequência, não o faz para obter prazer, mas sim porque está a descobrir o corpo, tal como antes descobriu as orelhas ou o nariz, ou porque, vítima de uma angústia de castração, precisa de se certificar constantemente da sua existência
Rota, Michel (1991), Comunicar Com a Criança, Edições Privat.
Página 54. O sublinhado é meu.

Só me ocorre questionar, face ao brilhatismo do supra citado, se o hábito de coçar o-que-nós-sabemos é, pois, um prolongar da angústia existencial da castração, mas ao longo da vida.

segunda-feira, setembro 10, 2007

A Carla

Quando conheci a Carla, e pelo que ela conta, porque eu não me lembro, tinha calçados uns sapatos muito velhos que pareciam umas chinelas de tão usados. Também disse, nesse dia em que a conheci, aproximadamente 18 vezes a expressão «ai tão giro», o que faz de mim completamente estúpida.
Mas vamos, vá, gostei logo da Carla e da comandita dela: os palhaços, os desensovalhos, a maltinha do barro, todos com muitas ideias «tão giras».
Uns meses depois, plotou-nos, a mim e a duas miúdas super, um cartaz engraçado que serviu um dos momentos mais hilariantes da nossa vida. E nós oferecemos-lhe um cacto, com um papelinho junto a dizer que, caso não gostasse dele, podia metê-lo num-sítio-que-agora-não-posso-dizer e rasgar-se.
E ainda houve os anos-da-Carla, com banhos à noite na praia fluvial, e jogos de voleibol com saco de plástico como bola e eu de árbitro. E feiras medievais. E praxes na ARCA. E Carnavais, e faixas de miss. E a ilha da Armona. E a malta toda a prometer-me que eu não desenhava assim tão mal, mas tinha de começar pela estrutura maior. E o atrelado da Carla, vulgo Guedes, a fotografar-me sempre e compulsivamente as mamas. As minhas e as de todas, mas, reconhecidamente, com maior fascínio pelas minhas. (Está o caldinho entornado se a namorada do Guedes lê isto!)
Pois, e quando eu estive doente a Carla veio visitar-me.
Até me levou a Barcelona, para ver a madrinha.
A Carla? A Carla sabe fazer bacalhau com natas, embora às vezes não demolhe o bacalhau. E sabe fazer-me chorar quase baba e ranho por trás dos óculos só com flores, o que é qualquer coisa.
Agora, eu não percebi porque é que Deus pôs a Carla na minha vida até ontem. É que ela percebe umas coisas (poucas) de design e outras coisas (poucas) de template (é assim que se diz?) e reformulou-me o blog para ficar o mai-lindo-da-blogosfera. E então, a ideia de Deus em ter-me feito aturar esta chata que não demolha o bacalhau e se queixa das sandes de tomate, tornou-se mais clara e cheia de sentido.

PS. Bem sabes que eu te adoro, verdad? Obrigada! :) E vá, agora por este testemunho de agradecimento, quero o meu bonequinho BD desenhado. Lol, ou se não tiveres tempo, perdoo. Agora, não quero é um boneco de BD gordo. :P

Dúvidas existenciais pela manhã

Será (SERÁ?!) que o Pedro Paixão é uma versão deprimida e mázinha do Paulo Coelho e que, afinal, eu não passo de uma pindérica com a mania que é esperta, por adorar o primeiro e abominar o segundo?

sábado, setembro 08, 2007

Da nova série, que se inaugura, «Isto não especifica o DSM»

A partir de quantas vezes seguidas a ouvir a mesma música desenvolvemos uma POC?

quarta-feira, setembro 05, 2007

Esgotada a silly season, tempo de recuperar a dignidade:

- Das pernas, que deixarão de estar permanentemente mordidas pelos mosquitos do calcanhar à espinha ilíaca;
- Da escrita, com o retorno à acentuação e cedilhagem e
- Do vestuário, que agora sai do armário passadinho-a-ferro e não mais de uma mala amarrotante.

Nota: É pena é ter de perder o allure do bronzeado. Mas enfim, não se pode ter tudo.

domingo, setembro 02, 2007

Saldo Contabilistico Humano

Uma Grega simpatica a regressar de Portugal, um Palestiniano de 40 anos seguranca numa discoteca e como que saido do "Babel", duas Japonesas histericas das quais uma cabeleireira, um Libio (e nao Libanes!), uma Holandesa e o pai, cinco Espanhois muito giros, um casal Argentino de meia idade, duas Inglesas reformadas a viajar sem os maridos.
E uma serie de gente Portuguesa formidavel.

Incrivel encontrar e depois perder tanta gente ao mesmo tempo. Agora, voltar a casa. Com o saldo definitivamente mais chorudo.