domingo, abril 23, 2006

João

Quantas horas, João, passei a pensar em ti? Quantas horas, quantas, depois da vida de todos os dias, depois das distrações rotineiras que me ocupam. Quantas horas, quantas, a revirar-me amarrotando os lençóis da cama, a tentar tanto lembrar-me do teu sorriso como a tentar não me lembrar dele.
Quantas horas, quantas, a raiva a subir-me aos olhos e as lágrimas, enfim, a molhar a almofada, e tanto, tanto, tanto de lágrimas em raiva como em amor.
Quantas horas vociferando contra ti, arrastando ódios por mim dentro, quantas horas a insultar-te as opções e a estranha forma pela qual consegues sempre fazer-me doer. Quantas horas, quantas, a prometer evitar-te e sabendo-te o meu maior veneno, quantas horas caem de cada vez que me abraças, quanto do meu ódio se lava na presença do teu gesto ou mesmo da tua voz?
Quantas mais pessoas, João, quantas, adesão, ingestão, digestão, exocitose, desta vez não um mecanismo das células de que tu gostas, mas a única forma de me relacionar com o mundo depois de ti, quantas mais pessoas até me perdoar, até te perdoar, até à exocitose do (tanto) que resta de ti em mim e me vai queimando todos os dias?
Quantas mais horas até perceber porque gostas tão empenhadamente da letra da música que chama ao amor doença, quantas, João, quantas?
Tantas?

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