sexta-feira, julho 03, 2009

Dos Hai Faives em Geral

Antes de tudo resto, uma consideração inicial: não me falta muito para chegar aos 30. Este facto poderia não ter qualquer relação com este post, mas parece-me que tem e que a idade cronológica determina, e muito, a nossa relação com a tecnologia.
Gente com quase trinta passou a infância a esfolar joelhos e a andar de biclieta. Brincámos com vizinhos no meio da rua sem vigilância paterna a partir dos seis anos, embalámos Nenucos, Barbies e Barriguitas, adorámos o He-Man, esperámos horas em frente à TV, fartinhos da cara e das patilhas do eng. Veloso, em espera histérica pelos «bonecos».
Devo ter visto a internet a primeira vez por volta dos 15. Quando a internet apareceu, usavam-se programas de chat um bocado estranhos, com fundo preto, em que apenas aparecia o nick de alguém seguido do sinal >. Nessa altura, o Mirc era o máximo e, quando andava na faculdade, ser Op ou Voice num canal importante era a loucura. As pessoas usavam nicks estranhos: os rapazes, qualquer coisa preferencialmente viril, as miúdas, quando se achavam modernas, sensuais e crescidas, qualquer-coisa-woman, quando se achavam mais miúdas e catitas, qualquer-coisa-girl. As conversas iniciavam-se por «ddtc», seguido de «m/f». Ninguém perdia tempo.
Lembro-me de algumas coisas particularmente importantes na minha relação com tecnologias. Vi o meu segundo namorado a primeira vez na televisão e soube qual o nick dele pelo topic de um canal. Achei-o giro e espertíssimo (sempre gostei de homens espertos) e meti conversa. O resto, podem imaginar como foi.
Na sequência disto, uma vez o meu nome foi citado no #coimbra e o meu coração bateu como bateria hoje se eu comprasse uns Manolo.
Nessa altura, costumava jogar um quiz online e havia, inclusivamente, um canal paralelo em que se discutia o que ia acontecendo no quiz. Sabia muitas coisas, mas não era muito rápida a escrevê-las. Não pontuava muito, mas, à conta do quiz,ainda sei citar «linguagens de programação». Antigas. Ainda hoje conheço e adoro pessoas do canal de quiz. Foram aliás, essas pessoas que, contra a minha violenta resistência, me falaram de um programa de chat novo, chamado... msn. Não sei se o mirc ainda existe.

Ora, tudo isto para justificar que já sou velhinha (credo!) e que algumas das coisas que vou dizer podem ser completamente anacrónicas, mas cá vai.

Pessoas deste mundo: o hi5 não é, repito, não é: uma revista pornográfica, um chá de tias na Av. de Roma ou um exibir de qualidades intelectuais. Pelo que, oh pessoas, vamos lá a ter juízo.
Quero com isto aconselhar-vos que, a bem do bom senso, da moral pública e, principalmente, da vossa imagem, se abstenham de algumas coisas:
1) Colocar-vos em bikini, à disposição do povo. Reparem, meninas, vocês podem ser generosas, altruístas, elegantes e sem ponta de celulite, mas algumas outras meninas colocam-se igualmente escanchadas e despidas em páginas de revista e ganham dinheiro com isso. Dá-vos um ar vulgar, como o dessas meninas. Nota particularmente negativa para meninas enganchadas umas nas outras, em lotes de muitas-em-bikini. Me-do.
2) Do mesmo modo, é-nos bastante irrelevante saber onde foram nas últimas férias. Oh pessoas, e a mim que me importa saber que a praia onde se fotografaram contra a baía é na Grécia, quando afinal é tão parecida com a Nazaré? E que me interessa o vosso popó topo de gama, que nunca se sabe afinal de quem é, ou o barco do amigo ou, cúmulo dos cúmulos, o colégio onde andaram ou, pior ainda, em que zona de Lisboa moram?
3) Por último, a exibição intelectual. Dividimos dois grupos: os Paulos Coelhos e os Gothan Projects. Aos Paulos Coelhos, só me ocorre dizer: «Larga!». Cuidado com o Paulo Coelho, que já é suficientemente mau sozinho e, nunca, nunca o associem a Nora Roberts. Se isso vos ocorrer, enfiem-se no wc mais próximo e batam com a cabeça numa esquina enquanto dizem «Paulo Coelho». A associação Paulo Coelho/ dor vai ajudar. Aos Gothan Projects, tenham juízo. Procurem lá mais um filmezinhos, conheçam lá mais uns realizadores (há os malaicos, os turcos, os árabes, os franceses, há o mundo inteiro) e não se armem em espertinhos. Já não há saco para o Eternal Sunshine of The Spotless Mind como filme preferido. Há melhor. Há, há. Eu garanto.

Naturalmente, poderão dizer que passei muitas horas no hi5 a ver isto tudo. Eu, pecadora, me confesso. Mea culpa.

2 comentários:

west disse...

Gostei de ler este post. Sem dúvida brilhante. Concordo e identifico-me com tanta coisa. A minha opinião sobre o hi5 e sobre quem o usa como "montra" não podia ser mais a favor. Excelente.

Renata disse...

Muito bom Inês...Subscrevo e até porque o HI5 já caminha a passos largos para o demodé...o que está a dar é Facebook!!! A moda é efémera.