quarta-feira, junho 30, 2010

Pina Bausch, ainda

Algures no segundo ano da faculdade, uma qualquer alminha do ilustre corpo docente decidiu- realizar um conjunto de encontros que divulgavam a psicologia na arte. Não me lembro do programa. Nessa altura, antes do In Therapy, deve ter havido uma bela resenha de filmes clássicos e... uma conferência de psicologia na dança.
Lembro-me como se fosse hoje de ter ouvido falar de Pina Bausch a primeira vez. Lembro-me do entusiasmo da Margarida Pedroso Lima, uma daquelas professoras porreiras que se tem, que dançava, tinha namorados giros que a vinham buscar à porta do anfiteatro e fazia yoga, falar dela. Gostei de Pina Bausch logo ali, aos vinte-e-muito-poucos, sentada nas cadeiras laranja sarrafadas.
Vi os videos, pesquisei com empenho a dor e o desespero que levaram à criação do Café Müller, aprendi algumas coisas de dança moderna, de dança clássica e de dança de coisa nenhuma e determinei que iria vê-la quando viesse a Portugal. Custasse o que custasse.

Alguns anos depois, Pina voltou uma primeira vez ao Teatro Camões. Não consegui bilhetes e tive um desgosto tremendo.

No ano seguinte, em virtude das reclamações ligadas à compra de bilhetes no ano anterior, decidiu o teatro São Luís avisar com antecedência em que dia seriam postos os bilhetes à venda. Eu soube deles num Domingo à noite. Vivia em Caldas da Rainha e supliquei a um amigo lisboeta que os fosse buscar à FNAC, histérica e a pedinchar como poucas vezes. Os bilhetes Pina Bausch vieram.

Vi a companhia dela no CCB, e o espampanante Masurka Fogo.
Mas sobretudo, vi-a no São Luís e vi coisas que aos vinte-e-poucos não teria visto. Chorei muito e devo ter sentido das maiores emoções da vida - assim uma emoção esquisita, que não sei explicar. Não foi só vê-la dançar, tão magra e frágil e de cabelo tão pesado e comprido, copiando os movimentos da primeira bailarina, tão mais nova, tão mais forte, a lembrar-nos que envelhecemos, que o tempo passa e que, velhinhos, já não poderemos tanto movimento. Foi sobretudo, a repetida queda e fraqueza do amor, não obstante a força dos bailarinos a agarrarem-se. Amor impossível, amor que se parte e quebra sempre, amor que nunca ganha, coisas de que só suspeitam os mais crescidos.

Alguns meses depois ela morreu. Faz hoje um ano. Não é que eu já não soubesse (e como!) que pessoas morrem, mas uma parte de mim está ainda agarrada à cadeira do São Luiz, a vê-la dançar, magra e frágil, lá ao fundo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Amei Nês!